por Joelmir Tavares | Folhapress

O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho e estrategista digital do mandatário, contestou no Twitter o ex-ministro do governo de seu pai e presidenciável do Podemos, Sergio Moro, por comparar a retórica de Bolsonaro no caso com o discurso do polo oposto.
O ex-juiz escreveu que "a posição do presidente no conflito converge com a da oposição na extrema esquerda, que age como se não houvesse um agressor e uma vítima". Perfis bolsonaristas rebateram, lembrando que o Brasil votou na ONU a favor da resolução contra a Rússia pela invasão.
Além de Moro, outros pré-candidatos ao Planalto que compõem a chamada terceira via enxergaram em atitudes dúbias um flanco para atacar ao mesmo tempo os dois favoritos da corrida eleitoral.
Sobre Lula pesam acusações dos presidenciáveis a respeito de afinidade com países favoráveis à Rússia, como Venezuela, Nicarágua e Cuba. O ex-presidente reforçou sua posição contrária à guerra e em defesa da soberania ucraniana, sem, no entanto, deixar de aludir indiretamente aos EUA.
"As grandes potências precisam entender que não queremos ser inimigos de ninguém. [...] É inadmissível que um país se julgue no direito de instalar bases militares em torno de outros países", disse o petista na quinta-feira (3), durante viagem ao México.
"Trilhões de dólares foram gastos em guerras recentes, no Oriente Médio e na Europa, quantia suficiente para eliminar a fome no mundo, [...] no entanto essa quantia foi usada para causar a morte de milhões de pessoas no Iraque, no Afeganistão, na Síria, no Iêmen, no Paquistão."
O empresário Otavio Fakhoury, que é apoiador de Bolsonaro, discípulo do escritor Olavo de Carvalho e presidente estadual do PTB em São Paulo, diz que o embate na Europa contribuiu "para embananar tudo".
Ele próprio tem lado: diz que prega a soberania da Ucrânia acima de tudo, não isenta a União Europeia com "suas agendas globalistas" e discorda da defesa de parte da direita nacional a Putin sob a justificativa de que ele apoiaria a autoridade do Brasil sobre a Amazônia.
"Tem gente [no campo conservador] achando que é bom defender o Putin. Eu digo que esse suposto respeito dele pela nossa soberania é conversa pra boi dormir. As pessoas não entendem, precisam estudar mais. A Rússia já tem ramificações na região amazônica há pelo menos 50 anos", afirma.
Fakhoury, curiosamente, fica ao lado das alas da esquerda que culpam os EUA pela guerra, mas em uma chave diferente. O bolsonarista ataca especificamente Biden, que "é um fraco", e diz que o conflito "não teria começado" se o líder ainda fosse Donald Trump, que "com aquele jeito duro garantia a paz".
O empresário minimiza as análises iniciais que apontaram como uma das causas das cisões na direita o flerte de grupos locais mais radicalizados com o ideário das direitas ucraniana e russa.
O mote de "ucranizar o Brasil", visto entre militantes pró-Bolsonaro nos últimos anos, busca inspiração em movimentos de desobediência civil ocorridos no país europeu, que incluíram em alguns casos ações violentas na intenção de afrontar as instituições e provocar mudanças no poder.
Ao mesmo tempo, há adesão a ações de Putin como a cruzada contra direitos LGBTQIA+ e as políticas hostis a movimentos feministas e identitários, vinculados a uma agenda ocidental e progressista. A defesa dessas pautas coaduna bandeiras que ascenderam sob Trump e Bolsonaro.
"Há duas definições para 'ucranizar': uma é aquela ideia de jogar o político na lata de lixo [referência à imagem de um deputado do país sendo empurrado em uma caçamba durante manifestação em 2014 contra o sistema político] e outra é a de o povo resistir a um Estado opressor", diz Fakhoury.
O dirigente do PTB diz que é favorável a levantes, "mas sem armas. Quando o povo não consegue através da democracia representativa ser ouvido, faz protesto, vai pra rua, busca outros meios".
A deputada federal Carla Zambelli (União Brasil-SP), da tropa de choque de Bolsonaro no Congresso, afirma que "não há constrangimento nenhum" por ver setores da direita com posições díspares da sua, que é a de preservação da soberania da Ucrânia e da solução por vias diplomáticas.
E ressalva: "Quem defende a erosão das soberanias nacionais não é de maneira nenhuma defensor da liberdade e da autonomia dos povos, portanto não pode ser considerado conservador".
"Se algum direitista eventualmente advogar em favor da morte de democracias ou [em favor] de uma ordem global, tenho certeza de que haverá resistência do campo conservador. Nós somos defensores da autodeterminação dos povos, das soberanias nacionais, da democracia, da liberdade."
Zambelli afirma ainda que "os projetos representados pelos blocos [envolvidos na guerra] estão todos eles expostos" e cita em tom de apreensão o avanço de uma "agenda global" avessa à soberania de países. "As pessoas começam a observar que estamos diante de uma nova ordem mundial, até então vista com ares de teoria da conspiração, assim como foi o Foro de São Paulo [integrado pelo PT] lá atrás."
Em outra estocada no presidenciável rival, ela diz que Lula "a todo momento muda de discurso" sobre a ação russa e "é desqualificado do ponto de vista moral e histórico para opinar sobre qualquer questão diplomática", por suas relações com "regimes ditatoriais sanguinários".
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