Foto: Alan Santos/ PR
A saída de Nelson Teich parecia uma questão de tempo desde o início da semana passada, quando o ministro passou a ser fritado publicamente pelo presidente da República e pela claque que o acompanha. Pedir demissão, por mais que pareça um ato de coragem, no caso dele foi algo bem covarde. Nada do que aconteceu desde a chegada de Teich no Ministério da Saúde foi diferente da expectativa apresentada desde sempre pelo capitão. Abandonar o navio fala mais sobre o ex-ministro do que sobre qualquer outra figura envolvida.
Estamos, formalmente, desde a sexta-feira sem um comandante na Saúde - não que tenhamos em outras áreas. Em condições normais, isso seria preocupante. No meio de uma pandemia, assusta ainda mais. Há a interinidade de um general que, ao assumir a secretaria-executiva, blindou-se do desconhecimento do sistema de saúde ao ser citado como um excelente gerente de logística. Eduardo Pazuello pode até ter méritos, mas um deles não é o de nos deixar confortáveis com a atuação de um ministério chave para brecar os avanços da Covid-19 no país.
Enquanto isso, manifestantes em diversas partes do país seguem apoiando o presidente como se vivêssemos em céu de brigadeiro. Dessa vez, ao menos nos ângulos mostrados, não havia críticas antidemocráticas. Apenas pessoas que fingem não perceber a gravidade da crise sanitária atual. Tudo o que um governo que precisa ser elogiado gostaria de ver. Mesmo que a saúde esteja à beira do caos e tenhamos baixíssimas esperanças de que tudo passe logo.
A hidroxicloroquina voltou a ser a bola da vez. O uso político de uma substância química nunca esteve tão evidente no passado recente desse país. Porém, para os apoiadores cegos, quem politiza a pandemia são governadores, prefeitos e quem quer que esteja preocupado com o crescente número de casos e de mortos pela Covid-19. A cada momento em que perdemos tempo com discussões mesquinhas, padecem mais e mais brasileiros. E a saúde, algo tão caro a todos nós, fica em um plano bem abaixo do que deveria.
Entre cortinas de fumaça, barulhos silenciadores e falta de sensibilidade, vemos um país cada vez mais acéfalo para combater a combinação de dois dos maiores males dos últimos séculos, o coronavírus e a desinformação. Daqui a algum tempo, talvez, tenhamos noção do caminho inadequado que tomamos. Para o bem ou para o mal. Tomara que ao menos não demoremos a ter um ministro da Saúde. E que quando o novo chegar, que não seja um que apenas diz amém.
Fonte: Bahia Notícias
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