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quarta-feira, 26 de agosto de 2020

TSE forma maioria para criar cota do fundo eleitoral para candidaturas de negros

 TSE forma maioria para criar cota do fundo eleitoral para candidaturas de negros

Com os votos dos ministros Og Fernandes e Luís Felipe Salomão, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) formou maioria nesta terça-feira (25) para obrigar os partidos a destinarem recursos do fundo eleitoral de maneira proporcional à quantidade de candidatos negros e brancos.

A decisão, no entanto, não vale para as eleições municipais deste ano. A inovação nas regras eleitorais, entendeu a maioria dos ministros, ficará para o pleito de 2022.

“Negar à população negra iguais condições aos recursos do fundo partidário e ao direito de antena é inviabilizar a democracia participativa e plural em sua plenitude”, afirmou Og.

Ele foi o quarto ministro a votar, seguindo entendimento do presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, e dos colegas Edson Fachin e Alexandre de Moraes.

A corte julga também se aplica regra similar à propaganda eleitoral gratuita na TV e no rádio, ideia defendida pelos quatros ministros que já votaram.

Ao defender a atuação do tribunal, Og afirmou que o Legislativo se omite na discussão de medidas em defesa de populações vulneráveis, incluindo a seara eleitoral.

O ministro manifestou preocupação em se implementar mudanças às vésperas das eleições municipais deste ano, marcadas para novembro.

Concordando com a criação de cota financeira para candidatos de pessoas negras, Luís Felipe Salomão compartilhou da preocupação de Og e defendeu a implementação da medida somente a partir das eleições de 2022 em nome da segurança jurídica.

“A alteração dos critérios no atual estágio tem o potencial de produzir ruídos indesejáveis na distribuição desses valores, causando insegurança jurídica”, afirmou.

Ele, no entanto, reconheceu que o TSE toma uma decisão histórica. “A distribuição igualitária dos recursos de campanha e do tempo de propaganda, na exata proporção de candidaturas lançadas, representa decisivo passo para amainar a histórica desigualdade de condições entre negros e brancos vivenciada em nosso país”, afirmou Salomão.

Faltam votar os ministros Sergio Banhos e Tarcísio Vieira de Carvalho.

O tribunal analisa o assunto a partir de uma consulta apresentada pela deputada Benedita da Silva (PT-RJ).

A congressista solicitou ao TSE a aplicação aos negros do mesmo entendimento segundo o qual o STF (Supremo Tribunal Federal) obrigou os partidos a investirem ao menos 30% do fundo público eleitoral em candidaturas femininas.

Quando votou na semana passada, o ministro Moraes havia defendido que fosse estabelecido um patamar mínimo de investimento para candidatos negros já em 2020. Disse que a regra de transição é necessária para evitar que uma eventual fixação de cota financeira para concorrentes negros não tenha um efeito contrário.

A ideia é que as siglas usem um montante financeiro equivalente à quantidade de concorrentes negros no pleito municipal anterior.

Segundo Moraes, a proposta de Barroso poderia levar os partidos a não inscrever nenhum negro a fim de evitar a divisão do recurso eleitoral.

O ministro disse que a fixação de cota financeira assegura direitos fundamentais a grupos historicamente vulneráveis e não "se trata de atuação substitutiva ao Congresso Nacional com a fixação de uma política de ação afirmativa genérica".

Moraes sustentou que a regra imposta pelo TSE é adequada para a integração efetiva de negros em espaços de poder. Ele disse ainda que o cenário aponta para a perpetuação do quadro atual.

"Não tenho dúvidas de que a sub-representação das pessoas negras nos Poderes eleitos, ao mesmo tempo que é derivada do racismo estrutural existente no Brasil, acaba sendo um dos principais instrumentos de perpetuação da gravíssima desigualdade. Trata-se de um círculo extremamente vicioso."

Moraes ressaltou que os dados do TSE mostram que, em 2016, 49% dos candidatos homens eram negros, mas o grupo recebeu apenas 26% da verba eleitoral.

Sem uma regra de transição, destacou o ministro, os partidos poderiam reduzir a inscrição de negros ou mesmo registrar apenas concorrentes brancos.

Barroso disse ter simpatia pela ideia de Moraes e afirmou que estudaria a sugestão para aderir ou não à proposta.

Ao se manifestar, Barroso havia dito que a igualdade, tanto formal quanto material, deve ser buscada não só pelo Estado, mas por toda sociedade. “Se o racismo no Brasil é estrutural, é necessário atuar sobre o funcionamento das normas e instituições sociais, de modo a impedir que elas reproduzam e aprofundem a desigualdade racial."

O posicionamento foi seguido por Fachin, que destacou: “Ações em prol da igualdade racial e de gênero devem ser respeitadas e buscadas como um fim preconizado pela ordem constitucional vigente”.

Embora representem pouco mais da metade da população do país, segundo o IBGE, os negros (pardos e pretos) seguem sub-representados nos mandatos eletivos.

Nas eleições municipais de 2016, levantamento feito pelo jornal Folha de S.Paulo mostrou que as candidaturas negras para vereador somavam 48% dentre os mais de 437 mil aptos na disputa. Entre os eleitos, esse percentual caiu para 42%. Entre os pretos, apenas 5%.


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